Era próximo ao Natal quando vi a postagem de uma professora fazendo a maior comemoração porque uma das alunas da sua escola tinha sido aprovada no Colégio Politécnico para cursar o Ensino Médio. Conhecendo a escola e a comunidade que ela atende, liguei logo pra saber mais sobre esta notícia. Fiquei tão feliz! Acredito muito que não importa de onde tu vens, mas sim para onde queres ir. Acredito muito na força da escola, dos professores e na vontade de cada um. Justificativas para o contrário temos muitas, todas bem plausíveis. Mas a gente precisa "aprender a florescer onde Deus nos plantou". E cada vez mais esta frase faz sentido para mim.
Ando cansada de ouvir lamentações, de colocar tudo nas mãos de terceiros como se não tivesse nada que pudéssemos fazer para mudar a situação, seja da nossa casa, da escola, da comunidade, da nossa cidade, do país. Como tenho um trânsito grande nas escolas, conheço muitas histórias e sei que é possível mudar realidades.
Voltando àquele dia de dezembro, conheci então a história da Gabrielle, filha mais velha da Sabrina, irmã da Ana Julia e que agora vai ganhar mais um irmãozinho, o Luis Fernando. A Sabrina é a primeira "instituição", chamada mãe, que eu jogo minhas fichas, minha admiração e minha esperança. A segunda chama "escola". Sempre. Sabrina criou as filhas com muito esforço e muito amor, praticamente sozinha. Com a ajuda da avó, a mãe estudou, buscou qualificação sem nunca deixar as meninas sem o amor e sem o exemplo. Com a famosa frase que muitos de nós conhece: "estuda! estuda, porque é o melhor caminho", a Gabrielle cresceu.
A Gabi e sua pequena família moravam no Alto da Boa Vista. Ela estudava na Escola Augusto Ruschi. Depois passou pela Escola São Carlos, na Urlândia, e João Belem, no Centro. Aí, a mãe se mudou para o conjunto Leonel Brizola, e a Gabi foi estudar na Escola Maria de Lourdes Castro, onde fez parte do 8º e todo o 9º Ano. E mais uma vez a mãe não mediu esforços, segurando daqui e dali para fazer valer o seu grito de guerra - estuda porque é o melhor caminho. Colocou a Gabi num cursinho três vezes por semana. Quem sabe onde a menina mora, entende o esforço de uma adolescente de 14 anos e da mãe para esta empreitada.
O mais importante para a sua aprovação foi a escola, segundo a própria Gabi. Ela não tem dúvidas disso. O cursinho reforçava o que a escola fazia. E quando saiu a lista dos aprovados, lá estava a Gabrielle em primeiro lugar na cota de escola pública! A vitória é da Gabi, da Sabrina, da vó! A vitória é da escola, das escolas pelas quais passou e dos professores que fizeram diferença na vida desta menina.
E eu fiquei tão feliz. Feliz porque acredito na escola, porque acredito que a mudança que queremos passa antes e em qualquer tempo pela escola. Não tenho a menor dúvida de que é pela educação que vamos mudar este país. Não acredito em mudanças que venham de Brasília, mas aposto nas transformações que saem da escola para que um dia, espero não muito distante, tenhamos pessoas comprometidas em construir um mundo melhor para todos. Os que hoje estão em Brasília são apenas uma representação do que temos em qualquer cidade, em qualquer comunidade. E isso envolve a corrupção, por menor que seja, ela nasce pequena sempre; envolve o caráter, envolve empatia, envolve educação.
Obrigada, Gabi, Sabrina, Silvana Guerino e todos os que fazem luz neste mundo onde a escuridão teima em sempre querer mais espaço.